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Mostrando postagens de janeiro, 2011

VIVI OU OUVI?

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Naquele tempo, Papai Noel entrava pelas chaminés, Mula-sem-cabeça era real, e o Saci vivia ali pelo campo se escondendo em moitas de bambu. Quando o vento soprava forte era fácil ouvir o chamado da sua flauta. Isso era um sinal de perigo, porém, aquele assobio que vinha das moitas de bambu atraia as crianças para suas aventuras e aqueles ouvintes atentos se juntavam armados de estilingues, bolinhas de argila e embornais.         Armados, saiam aos pares, na caça ao Saci. Eram personagens das próprias histórias. Hoje, ao revolver as cinzas do bambuzal, oculta na mata cinzenta da memória, encontrei esta história como a ouvi; ou vivi. Na Rua Rui Barbosa, de uma pequena cidade do interior de São Paulo, nasci.                     No final da rua as casas e as vendas davam espaço para as chácaras, que ficaram conhecidas pelos nomes dos proprietários: Chácara do Zezico, do Messias, do Dito Carreiro e outras.                   Quando nasci encontrei uma família formada por meus pais, meus

REFLEXÃO

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                                        Há algum tempo, quando o exemplar diário da Folha da Região chegava a minha casa eu era a primeira pessoa a ler. Fazia-o com prazer e curiosidade. Hoje, não mais. Sinto-me desgastada com as notícias que me desgostam. Não é culpa do jornal. Ele é informativo, e esta é a função de um matutino diário. Porém, tenho preferido ser desinformada. Da televisão recrutei os desenhos, e dos jornais a página cultural. Isto me basta, para que ocupar meu já cansado cérebro e meu preguiçoso coração, com notícias que me desagradam. Não sou separatista e para mim tudo que existe em forma de gente, são pessoas, seres humanos, que se respeitosos, merecem respeito. Lado a lado duas notícias publicadas no exemplar do dia 11/01/2011 me chocaram, provocando em mim reflexões. “Deputados vão receber R$100mil em um mês” e “Estado vai fazer cirurgias gratuitas para transexuais”.     A segunda notícia transportou-me para os hospitais sem leitos, remédios e médicos, para a

A ÚLTIMA PASSARELA

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     Caminhou pelo quarto quase vazio, algumas peças de roupas amontoadas na cadeira, outras esparramadas pelo chão. O casal acabara de comprar o guarda-roupa. Madeira pura, ela garantiu. Tentou com esse argumento conseguir mais alguns trocados. A moça olhou para ela, depois para o noivo que estava ocupado em descobrir um defeito que reforçasse a pechincha.               — É madeira de lei, pode examinar bem. O noivo, percebendo a intenção, reforçou:   — Mesmo que fosse de ouro, nem um tostão   a mais.                Sem outras palavras a vendedora estendeu a mão. As manchas senis explodiram em gargalhadas.                           Ao saírem a moça sussurrou: — Parkinson — Não, abstinência alcoólica. Restavam ainda a cama, uma mesinha redonda, a cadeira quebrada e o espelho, nada de valor, nem mesmo as possíveis imagens que por ventura   aquele espelho pudesse   ter guardado. Olhou compadecida para os velhos trastes, enquanto que, no espelho, algumas   imagens relâmpago despediram-s

VAMOS BATER PAPO

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 Quando os avós envelheciam depressa demais, eles tinham uma necessidade de nos contar suas histórias, muitas vezes se escondiam por detrás de personagens fictícios. O diálogo não podia ser aberto, porque tanto o mal como o bom exemplo seriam imputados a eles, não havia a televisão para carregar a culpa. Hoje como a medicina nos garante mais tempo de vida, queremos ter exclusividade sobre o tempo excedente e sabe o que fazemos? Sepultamos nosso passado. A desculpa mais usada é de que os jovens não querem ouvir ou não se interessam.                   Saudosismo, este sentimento que nos leva ao passado, pode muito bem ser compartilhado com os jovens. Eu não quero deixar para meus netos um passado sem histórias, divido com eles meu passado e meu presente, só não falo de doenças, porque descobri que nem os próprios velhos se agüentam quando o assunto fica pálido. Lição de moral, como ensinou-me um mestre, deve ficar no final da fábula. Mas lembrar sempre é bom: Doença e sexo depois do

UM POUCO DE MIM

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Este mim que fugiu da mimada filha única, para aprender a repartir o pão com uma ninhada de primos filhos de uma tia. A tia mais querida do mundo. Foi com ela que aprendi o muito que sei de educar e amar. Foi com ela também que aprendi a embalar os sonhos e só desembalá-los quando o momento for oportuno. Foi assim que ocultei meu grande sonho de ser escritora. Tornei-me costureira muito cedo e foi nessa honrosa profissão, que já na adolescência dei meus primeiros pontos. Lembro-me bem de ter costurado uma perda com pontos de saudade, depois de muitos furos nos dedos fui trabalhar como secretária em um consultório, o médico era competente e muito mal humorado.   Descobri logo que poderia costurar aquele mau humor com pontos de ternura, porém, esses pontos foram virando um nó tão mal compreendido que me obrigou a procurar um novo emprego. Ele ficou tão ofendido que rasgou o pano da amizade e por pouco não o jogou na lama. Continuei com minhas aulas de costura, aprendi que tem o pont