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Mostrando postagens de 2023

Eu quero ser melhor

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Eu quero ser melhor   Andam me dizendo que estou falando muito em velhice. Às vezes é preciso falar alto para que a verdade salte ao olhar opaco dos idosos e mostre que estamos ultrapassando os limites de tolerância dos filhos, amigos e cuidadores. Estou aproveitando minha velhice para aparar arestas e arrancar algumas pragas que brotam sem controle. Ainda restam muitos preconceitos para serem eliminados da minha vida. Posso até eliminar algumas rugas, manchas, tingir os cabelos, fazer alguma plástica e mesmo assim ver que os anos passaram, as rusgas internas seguem as rugas externas tornando-as mais evidentes e esse reconhecimento é doloroso para todos. Posso viver outros oitenta, mas, pecar como aos sete, dezessete, vinte e sete, trinta e sete... Nunca mais. Os pecados que me encantavam não me encantam mais, ridículos se tornaram. O tempo os desencantou. A velhice acumula alguns sintomas cruéis e outros revoltantes.  A dependência nos tornam duros insensíveis, a doce criatura que

Uma tregua no presente

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  Uma trégua no presente Toda manhã ao acordar antes de colocar meus pés no chão, coloco-os no meu passado. Caminho segura por ele, sei muito bem por onde andei. Não foi fácil chegar ao presente, passei por dificuldades e contornei obstáculos. Muitas vezes descobri que não deveria seguir os outros. Os guias não conheciam o caminho ou propositalmente me levavam para a beira de um abismo. Sofri escoriações e quebrei a cara mas, apesar delas, cheguei inteira.   O retorno ao passado fez de mim uma pessoa mais segura, quase todas as manhãs é prazeroso saber que Deus está no comando, aprendi a desviar-me das armadilhas que conheço, evitar encontros que não deixaram saudades e ver além das aparências as intenções reais. Algumas pessoas ficaram bem definidas no passado e quanto mais o tempo as distanciam do presente, mais nítida é a lembrança que os prestigia.     Gosto de me demorar no passado que me acompanhou até o presente com segurança. Mas, não posso viver no meu passado. Com carin

A criança que fui

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                    A criança que fui Hoje ao pousar meus olhos no caderno guardado do   Grupo escrevivência, descobri ter finalizado o meu trabalho sem encontrar a criança procurada pelo tema da reunião. Talvez nunca mais a encontre. A criança   que fui está se perdendo pelo longo caminho, deixou-se devorar por um lobo mal chamado tempo. Retomar a velha estrada é impossível. Ainda não encontrei a resposta para a pergunta feita naquela noite.   O que ficou em mim, da Nitinha que um dia eu fui? Onde ficou aquela pureza de anjo travesso, que escondia os filhotes da cachorra Campina, para vê-los abocanhados e devolvidos ao ninho? Pois é menina, onde anda você? Estou te buscando. Vou juntar seus pedacinhos, nas lembranças guardadas e colar bem coladinhos. Não quero te perder num cantinho alemão qualquer, nem por becos esclerosados de uma vida muito longa.   Acho que era esta a proposta da professora Cidinha Baracat, que buscássemos a criança que um dia se soltou de nós. Escrever a