De moleque para moleque
Foto Favela do Jd. Jaqueline - SP - Brazil by cassimano
A poeira da copa ainda não baixou e não vai baixar tão cedo.
Em se tratando de futebol a memória do brasileiro é privilegiada. Alguns ainda lamentam a amarga derrota do
Brasil na copa de cinquenta quando perdemos para o Uruguai, também, aqui dentro
de casa.
Um senhor de oitenta e alguns anos ao quarto gol da
Alemanha, ajoelhou-se e implorou:
—Duas vezes não, meu Deus!
Havia turistas querendo ficar no Brasil. Com certeza
desconhecem a nossa realidade. Se pensam que tudo é festa, enganam-se. Logo
descobririam que pagamos impostos altíssimos e como contrapartida, não temos
saúde, segurança e as escolas não propiciam aos alunos um ensino adequado. Nem
mesmo as escolas particulares são eficazes. Não sei se culpa do método
utilizado ou do descaso, mas constata-se que há jovens que terminam o segundo
grau e não aprenderam sequer as operações fundamentais da matemática.
Presenciei um fato que muito me constrangeu: uma balconista,
bonita, educada me atendeu. Comprei quatro botões de R$ 1,25 cada. Vi a moça
transpirar. Fui cruel ao vê-la tirar da cartola aquela coisinha mágica capaz de
resolver o seu problema. Confesso que me irrita ver a preguiça mental se
entregar ao deleite de uma calculadora sem esboçar nenhuma atitude de
defesa. Primeiro sugeri educadamente que
ela usasse o cérebro. Ele, tanto quanto o bumbum, as pernas e a cinturinha,
precisa de exercício. Ela respondeu que não precisava de exercícios, que era
toda artificial. Confesso que não entendi se ela quis brincar, ser grosseira ou
não sabia a diferença entre natural e artificial. Bem, na dúvida sugeri que ela poderia usar o
raciocínio.
Primeiro ela riu, depois voltou sua atenção para a maldita
calculadora, que a inquiriu:
—Você não vai aceitar a provocação desta velha que aprendeu
nos velhos métodos ultrapassados. Ou vai?
Eu compadecida e paciente aguardava a tão esperada conta.
A garota me olha desafiadora, quer me provar que sabe, mas,
tenho certeza de que não sabe.
Sinto uma revolta muito grande a me consumir: Malditos, o
que estão fazendo com as nossas crianças? Não proporcionar um ensino digno é a
forma mais cruel de governar um país.
A menina volta a me olhar. Está transpirando. Guardou a
muletinha no bolso e zas... caneta na notinha que eu apresentaria ao caixa .
Notei que ela não sabia multiplicar e avisei, a conta esta errada, tente a
adição. Foi pior ela somou:
1,25+1,25+1,25+1,25= 4,28 entrei em choque. De onde ela tirou este resultado?
Gostaria de perguntar aos mestres em que ano do currículo
escolar entra as operações básicas da matemática e se tabuada não faz mais
parte do currículo?Afinal a calculadora tem razão no meu tempo de escola os
métodos eram outros e ninguém passava sem saber. Muita coisa está fora de lugar
no Brasil, mas a educação não pode estar assim no patamar da avacalhação!
O turista viu um
país para inglês ver. Nem futebol temos mais,e olha que este esporte era a
glória dos brasileiros. Apanhar fora de casa quase todo moleque apanha, mas,
apanhar dentro da própria casa é uma humilhação que o tempo não apaga. É que de
moleque para moleque eles souberam melhor afastar os (i)móveis e ocupar os
espaços.
Nossas crianças ainda não.
Emília Goulart
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