Fácil... Fácil
Fácil... Fácil
Créditos de Imagem: Biblioteca Google Image
Quando cheguei, ela estava lá na recepção, animada conversava com a
recepcionista como pessoa
muito conhecida. Rapidamente ela nos observou, olhou para nossa bagagem e se afastou,
tomou um dos elevadores e desapareceu das nossas vistas. Na manhã seguinte a
vimos solitária no café e, logo depois ainda só sob um guarda sol lá estava ela
na praia.
Aos poucos, a estranha criatura que parecia ter olhos apenas para além do horizonte
foi se aproximando.
Pensando bem, fui eu que me aproximei daquela solitária figura que fazia suas
refeições , curtia o sol, a praia e o mar como se as pessoas ao seu redor não
existissem.
Antipática... Exagerei, esta mania de julgar as pessoas a primeira
vista sempre nos engana. A mulher era bem simpática, cumprimentava a todos com um sorriso e
parecia bem ambientada e querida pelos ambulantes praianos. Todo cachorro vadio
e sem dono recebia dela um carinho. Quando os observava famintos, não hesitava
nem perdia seu tempo procurando responsáveis, comprava um marmitex e ficava ao
lado observando com que apetite voraz eles lambiam até o fundo da vasilha num
árduo trabalho de nada deixar.
Ah... aquela mulher roubava a minha atenção, divaguei sobre
a vida dela e pintei muitas telas imaginárias, vendo-a alimentar os cães . Ao
fundo o azul do céu , o mar, as ondas
que vem soprando o mar para lamber a
praia.
Contou-me histórias de pessoas cruéis com os animais,
pessoas que a criticavam ou viravam o rosto com escárnio ao vê-la alimentar os
cães.
Depois de algumas horas entre um banho de mar e outro perguntei-lhe a quanto tempo ela estava
ali. Sem constrangimento, ela respondeu:
— Desta vez faz quarenta e três dias que estou aqui.
—Você não tem família?– Perguntei.
—Sim, moro no interior. Adotei esta praia como meu refúgio.
— Como consegue prolongar tanto sua permanência?
Não houve uma pausa para ela dar a resposta, após uma
gostosa gargalhada ela satisfez minha curiosidade.
—Não tenho problemas, se não houver acomodação disponível,
aproveito para uma visita ao lar, assim que surge uma vaga eu volto.
Na manhã seguinte soube que ela não dormira por ter
socorrido um cão que foi atropelado, levando-o ao veterinário e pagando as
despesas. A tarde ela volta sorridente o cão estava salvo.
Perguntei- lhe se os filhos e o marido não se
incomodavam com suas longas férias. A resposta me fez entender tudo e por um
fim nas minhas cogitações.
–—Não... Acho que eles não notam a minha ausência. No começo
eles reclamavam, mas, logo arrumaram uma doméstica, fácil, fácil ... Eu me descobri um utensílio sem
utilidade.
Naquela mesma noite teve baile, ela me surpreendeu ainda uma
vez. Vestida de periguete, dançou pra valer com um bailarino contratado.
Nesta viagem aprendi de fato o que é fazer do limão, uma
limonada.
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