Terra ocupada

 

Terra ocupada

 


 

Inconformada com a desordem mundial, gerada pela incompetente globalização e carente de ordem e progresso, decidi sair a procura  de um lugar tranquilo para nele erguer o meu casebre.

Ideia infeliz, aonde neste mundo encontrar um lugar plausível, onde a convivência com os pássaros e os animais me devolvesse à tranquilidade perdida, o ar puro e revigorado pela natureza?  Longe da hipocrisia popular que se diz sem preconceitos, e dos políticos, ambiciosos e egoístas que, recebem do povo o poder para lhes devolver miséria. O gigante foi saqueado e está morrendo à mingua.

Depois de algum tempo, pensei ter encontrado tal lugar, ele fica no refúgio dos bichos. Não era exatamente o que sonhei, e logo me veio à memória o primeiro verso da famosa música, fascinação. “Os sonhos mais lindos sonhei”. O refúgio não era mais dos animais, madeireiros insaciáveis e acobertados por sucessivos e inescrupulosos governos, ocuparam o refúgio e levaram com a madeira, a paz daquele habitat natural. 

O desmatamento expôs uma riqueza em minério pouco explorada.

Garimpeiros arriscam suas vidas, mas não demorou em que a terra virgem e rica fosse ocupada por grileiros vorazes. A lei Áurea acabava de ser revogada. O homem humilde que cava o solo e busca o sustento com as próprias mãos voltou a ser escravo. Taxas e impostos são cobrados, a contra partida foi revertida em falta de saúde, de educação e segurança. Enquanto a justiça permanece sentada e de olhos vendados. Cresce a ambição daqueles que deveriam cuidar, mas só cuidam deles mesmos.

 A busca por madeira e minério não tem limites. Governantes fecham os olhos e deixam a boiada passar. Não é intriga não, foi palavra de um ministro!

De quimeras havia eu erguido meu casebre, sem a interferência urbana, longe dos sons das marretas, e das sirenes.  Sem rádio ou televisão me dizendo se vai chover, ou vai abrir sol. Não ando com guarda chuva, a esperança de tempo bom agoniza, mas não morre. Ao escalar a longevidade pensei que o relógio não seria mais o comandante dos meus dias. Eu estou cansada de generais e civis déspotas.  Abutres disfarçados? Descobri que conviver comigo mesma não é tão fácil como imaginei. Estou sobrecarregada de indignação.

O povo merece um pouco mais de respeito e conforto. Não há consolo para os aflitos, não há leito para os doentes, não há liberdade para o trabalho, nem alimento para o faminto. Lançam ideias conflitantes entre o povo, desestruturam famílias, minguam nossa capacidade de raciocinar. Enquanto nos bastidores rolam festas, certamente comemoram as mortes, pois nada há de positivo para comemorar. Estamos amordaçados desde a ditadura, pacificamente somos embalados com mentiras e falsas promessas eleitoreiras.    

O poder da governança se abastece da conveniente arte política do toma lá, da cá e sai vitorioso.

 Ao meu redor vejo crescer como erva daninha o desemprego, a fome e a  miséria. A falta de recursos financeiros é o maior e mais velho golpe aplicado por governantes e seus asseclas, é o maior dos engodos desde a época da escravidão. Habituada aos ruídos e conflitos, eu agora enlouqueço com o tédio que amplia minha visão. Se faltam recursos, de onde sai tantos desvios?

Abandonei o meu porvir risonho que se desfaz dos meus sonhos para sonhar outros sonhos, o de ver nossas pobres crianças frequentando escolas, bem alimentas e saudáveis. Não consigo sorrir e ser feliz com a minha decepção. Voltei ao mundo real bombástico e desumano atado por uma constituição desconstituída de amor aos pobres. Aqui, não há paz, não há beleza, é só melancolia que não sai de mim, não sai.

Desisti de ir a procura de um lugar tranquilo onde levantar o meu casebre, quando vi o fogo desalojar os animais.  Seria egoísmo demais fugir em momento tão angustiante. Ainda há em mim a esperança de parar de sonhar com quimeras e ver meu país triunfar sobre as desigualdades. A esperança agoniza, não foi extinta!

Emília Goulart

 


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