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O Funeral

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  Neste blog publicarei também incursões dos meus romances publicados, mas continuarei publicando crônicas e artigos. Gosto do que faço e continuarei fazendo, pois não sei mais viver de outra forma. Escrever tornou-se meu passatempo e minha profissão. Por esse motivo tenho que vender meu peixe. Esta é a primeira página do livro "O Diário de Vó Lina" Este livro pode ser adquirido pela Amazon.com ou direto comigo através do WhatsApp (18) 99139 2873                                                                         Capítulo 1  O Funeral Poucos amigos, nossa família, alguns parentes do meu lado materno, formavam um grupo que não somavam trinta pessoas. Estas eram as pessoas que acompanharam o funeral de vó Lina, atendendo ao pedido dela . Apenas os mais íntimos foram avisados. Já havia passado um ano, do dia em que recebi como presente pelos,  meus dezoito anos, um curso de inglês em Londres, a data eu escolheria. Aos sessenta e oito anos, vó Lina era bastante saudável, dava

Eu quero ser melhor

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Eu quero ser melhor   Andam me dizendo que estou falando muito em velhice. Às vezes é preciso falar alto para que a verdade salte ao olhar opaco dos idosos e mostre que estamos ultrapassando os limites de tolerância dos filhos, amigos e cuidadores. Estou aproveitando minha velhice para aparar arestas e arrancar algumas pragas que brotam sem controle. Ainda restam muitos preconceitos para serem eliminados da minha vida. Posso até eliminar algumas rugas, manchas, tingir os cabelos, fazer alguma plástica e mesmo assim ver que os anos passaram, as rusgas internas seguem as rugas externas tornando-as mais evidentes e esse reconhecimento é doloroso para todos. Posso viver outros oitenta, mas, pecar como aos sete, dezessete, vinte e sete, trinta e sete... Nunca mais. Os pecados que me encantavam não me encantam mais, ridículos se tornaram. O tempo os desencantou. A velhice acumula alguns sintomas cruéis e outros revoltantes.  A dependência nos tornam duros insensíveis, a doce criatura que

Uma tregua no presente

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  Uma trégua no presente Toda manhã ao acordar antes de colocar meus pés no chão, coloco-os no meu passado. Caminho segura por ele, sei muito bem por onde andei. Não foi fácil chegar ao presente, passei por dificuldades e contornei obstáculos. Muitas vezes descobri que não deveria seguir os outros. Os guias não conheciam o caminho ou propositalmente me levavam para a beira de um abismo. Sofri escoriações e quebrei a cara mas, apesar delas, cheguei inteira.   O retorno ao passado fez de mim uma pessoa mais segura, quase todas as manhãs é prazeroso saber que Deus está no comando, aprendi a desviar-me das armadilhas que conheço, evitar encontros que não deixaram saudades e ver além das aparências as intenções reais. Algumas pessoas ficaram bem definidas no passado e quanto mais o tempo as distanciam do presente, mais nítida é a lembrança que os prestigia.     Gosto de me demorar no passado que me acompanhou até o presente com segurança. Mas, não posso viver no meu passado. Com carin

A criança que fui

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                    A criança que fui Hoje ao pousar meus olhos no caderno guardado do   Grupo escrevivência, descobri ter finalizado o meu trabalho sem encontrar a criança procurada pelo tema da reunião. Talvez nunca mais a encontre. A criança   que fui está se perdendo pelo longo caminho, deixou-se devorar por um lobo mal chamado tempo. Retomar a velha estrada é impossível. Ainda não encontrei a resposta para a pergunta feita naquela noite.   O que ficou em mim, da Nitinha que um dia eu fui? Onde ficou aquela pureza de anjo travesso, que escondia os filhotes da cachorra Campina, para vê-los abocanhados e devolvidos ao ninho? Pois é menina, onde anda você? Estou te buscando. Vou juntar seus pedacinhos, nas lembranças guardadas e colar bem coladinhos. Não quero te perder num cantinho alemão qualquer, nem por becos esclerosados de uma vida muito longa.   Acho que era esta a proposta da professora Cidinha Baracat, que buscássemos a criança que um dia se soltou de nós. Escrever a

Sonhos não tem acabamento

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    Sonhos não tem acabamento Ai...ai! A preguiça está buscando refúgio em mim. Não sei se é o clima mais fresquinho pedindo agasalhos ou a constatação de que outro inverno já passou. Em Julho fiquei mais idosa. De uns tempos para cá os anos começaram a acelerar seus passos e tem me provocado para uma competição desleal. Passou por mim os anos apressados dos sessenta, não respeitou a sinalização: “Devagar”. Acelerou, encostou-se aos setenta e já se aproxima da curva perigosa. Não possuo o mesmo vigor para alcançar objetivos elevados tais como o menosprezo ao tempo veloz. A preguiça me abraça. Doutor, por favor chame o guincho, mas não recue a linha de chegada que está aos noventa.   Hoje dou mais atenção para minha saúde. Ainda bem que guardei boas lembranças para desfiar na minha cadeira de balanço. Pensamentos utópicos me pressionam, um deles seria parar o meu relógio biológico. O outro mais utópico, resgatar princípios que se perderam. Pesquisei a respeito, mas, só encontrei p

Travessuras

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    Travessuras  Todas minhas travessuras infantis conspiravam para que eu me tornasse escritora. O carinho, a paciência e a criatividade do vovô Marco, muito contribuíram. Suas historias contadas aos ouvidos atentos dos netos ao redor do fogão de lenha, eram criadas enquanto suas mãos teciam esteiras para carros de bois, outras eram modificadas, ele tinha umas três versões diferentes para cada clássico: João e Maria, Gata borralheira, Branca de neve; não tinha propagandas   nem intervalos, mas vovô não admitia cochilos intercalados . Este era o sinal para a hora de dormir.       Suas versões eram divertidas, todas as noites histórias e causos uniam os netos entorno dele e do calor aconchegante do fogão de lenha que aquecia a cozinha nas noites frias. Esta não é uma história compreendida por leitores jovens a não ser que estejam dispostos a se embrenharem por uma mata densa de artigos e contos do começo do século vinte, para se encontrarem com lobisomens, sacis, carros de bois que g

Coisas do saci eu vivi

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  Coisas do saci eu vivi   Naquele tempo, Papai Noel entrava pelas chaminés, mula-sem-cabeça era real, e o saci vivia ali pelo campo se escondendo em moitas de bambu, quando o vento soprava forte, era fácil ouvir o chamado da sua flauta. Isso era um sinal de perigo, porém, aquele assobio que vinha das moitas de bambu atraia as crianças para suas aventuras e aqueles ouvintes atentos se juntavam armados de estilingues, bolinhas de argila e embornais. Armados, saiam aos pares, na caça ao saci. Eram personagens das próprias histórias. Oculta na mata cinzenta da memória, esta história como a ouvi ou vivi emerge das cinzas do bambuzal. Foi na Rua Rui Barbosa, de uma pequena cidade do interior de São Paulo que nasci.       No final da rua as casas e as vendas davam espaços para as chácaras, que ficaram conhecidas pelos nomes dos proprietários, Chácara do Zezico, do Messias, do Dito Carreiro e outras.       Quando nasci encontrei uma família formada por meus pais, meus avos e meus