AMADO JORGE e seu CAPITÃES DA AREIA


Vivo repetindo e acredito no que digo, não dá para ser escritor aquele que não lê. Pode- -se até escrever um poema, uma crônica e com sorte escrever um conto, mas sem ter lido outros autores, não teríamos ideia de como classificar os textos.
Fui pega na minha armadilha. Convidada a escrever sobre Jorge Amado senti um suor frio e pegajoso banhar minhas mãos. Da vasta obra deste escritor eu havia lido tão somente Capitães da Areia, isto porque apresentaram a obra aos meus filhos na escola e, diante das narrações que me fizeram quis saber do que  se tratava o livro. Gostei! Achei mesmo que saber como viviam os meninos de rua na Bahia não era tão ruim assim. Fiquei neste. Outras leituras me instigaram mais. Agora, às pressas, reli a Literatura Comentada de Jorge Amado e lamento não ter lido mais de sua obra.
“Escrever para mim é uma coisa que faz parte, que está dentro de mim, é a única coisa que eu sei fazer. É uma coisa que vem das minhas entranhas, é uma necessidade: eu sinto que tenho de fazer aquilo. Mas também é um prazer e eu me divirto ao escrever. Me cansa, me esgota, mas eu me divirto...eu não sei fazer nada que não me divirta”.
Essas palavras que tão bem exprimem o que sinto são de Jorge Amado, que nasceu na Bahia em 10 de Agosto de 1912 com o ofício de escrever a percorrer suas veias, até que um dia se derramou sobre as páginas da revista Luva onde fez sua estreia literária com o Poema ou Prosa, uma sátira aos poemas da época.
Seu primeiro livro O País do Carnaval, foi um sucesso,  mas como todo autor estreante enfrentou com paciência baiana que o editor Schmidt, sentado em sua imensa cadeira, se dignasse um dia a abrir o seu livro e revela para a Literatura Comentada: “Eu ia lá na editora, muito tímido e perguntava do livro. Ele respondia ‘estou lendo, estou gostando muito, já estou na página 70’. Três dias depois eu voltava e ele dizia estou gostando muito, muito, já estou na página 30”.
Jorge Amado foi um dos mais famosos escritores brasileiros com livros traduzidos. Sonhou viver do que escreveria e fez da arte literária seu oficio.
Ao ser procurado para dar uma entrevista para a organização de Literatura comentada, ele disse não gostar de falar de si mesmo, ao que Antônio Roberto Espinosa argumentou: “Mas o homem Jorge Amado é um escritor, portanto é normal que o público tenha curiosidade sobre o autor lido por mais de 20 milhões de pessoas no Brasil e no exterior. Especialmente os jovens que não viveram tudo isso que você escreveu”.
“ Está bem eu concordo. Estou às ordens.Toca o bonde”. Foi esta uma das melhores entrevista com Jorge Amado que li até hoje. Chego mesmo a pensar que nunca ele falou tanto de si mesmo como naquela entrevista, onde vou buscar abertura para me intrometer na vida dele. Suas ideias sobre literatura não eram muito claras. O melhor de Jorge Amado encontra-se em seus romances épicos retratando os grandes latifúndios baianos.  O escritor conta como eram as manobras dos coronéis para se apossarem das matas do Sequeiro Grande, envolvendo pessoas de diferentes níveis em roubos descarados e traições. São Jorge do Ilhéus continua o drama de Terra do Sem Fim. As obras se completam, não há herói individual, mas esta cumplicidade termina com as obras populares. Jorge Amado abandona a literatura engajada e adentra as cidades baianas mostrando todo seu lirismo.

Poeta do amor, como se autodefine, começou escrevendo crônicas de costumes, contando casos picantes e escândalos domésticos, alguns com certo nível em outros ele resvala pelo grotesco.
Contudo, Jorge Amado será sempre lembrado por brasileiros e estrangeiros  e,  principalmente,  muito amado pelos baianos.

Emilia Goulart é Membro do Grupo Experimental, da UBE e da Cia dos blogueiros

Comentários

Rita Lavoyer disse…
Emília, estou encantada com esta crônica. E você está coberta de razão quando afirma que não se escreve porra nenhuma quando não se tem um universo de leitura desenvolvido.
Fato é que você consegue, inclusive, produzir romances monstrando que tem, além de leitura de papel, leitura do universo que a cerca.

Li esta crônica no Jornal. E lembro-me que, quando li Capitães da Areia, em duas ocasiões,duas leituras diferentes, lógico que quanto mais velha, mais a leitura se aproxima da realidade kkkk, me identifiquei muito com a obra, com aqueles meninos todos que viviam na areia, fazendo dela o próprio lençol... Nem tudo que é correto é justo, como tb. nem tudo que é justo é gostoso! KKKKKKKKKK
Rita Lavoyer disse…
Perdoe-me o termo "porra". Ia substituir, quando vi já tinha postado! Substitua a palavra por outra, na falta deixa porra mesmo!

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