CONFIDÊNCIAS DE MÃE


Quem costuma ler as crônicas aqui neste espaço do Soletrando espera sempre encontrar a suavidade de um texto literário. Quando lerem  a sigla dos Transportes Urbanos de Araçatuba-  TUA, com certeza irão até dizer:
— Opa, mas isto deveria estar na Coluna dos Leitores!
 Embora a TUA desfrute constantemente daquele espaço com a altivez de uma dama, visto que jamais muda suas atitudes e desculpas, hoje ela é citada em crônica no Soletrando e prestando um serviço de utilidade pública, seu espaço se destina com objetividade a Terapias Urbanas. Não há terapia melhor que o ouvido de um amigo que o ouça. Apenas o ouça, mesmo que seja por poucos minutos.
Se você, como eu, gosta de escrever, vá de TUA. Ela transporta uma fonte inesgotável de temas, uns que nos fazem rir, outros nos fazem chorar, mas este aqui me deixou muito indignada. Gostaria de ser “gente grande”, daquelas que os legisladores leem, para que eles tivessem uma ideia de como anda a humilde família brasileira. Gostaria de pedir aos legisladores para pensarem um pouco. Que proibindo os pais de educarem da forma deles seus filhos, afastando as crianças de quaisquer tipo de trabalho, não serão alcançados os objetivos para os quais as leis têm sido criadas.  
Não suporto ouvir pais dizerem que seus filhos os desrespeitaram, mas sei que nem todos os pais merecem respeito. Porém, este não parece ser o caso de uma conversa que ouvi dentro de um coletivo.
Confidência de mãe para uma vizinha antiga, que se mudara e perguntou pelos seus filhos. Ela respondeu:
— Fulaninho ia bem, era um bom menino, tirava só notas boas, terminou o quinto ano com onze anos. Nesta idade começou a desejar coisas que meu ordenado e o do pai não davam para comprar. Aos doze, quis trabalhar. Ele mesmo foi falar com o tio que tem um pequeno comércio. Mais os fiscais, desses que se dizem protetores da infância e da juventude, não deram sossego para meu cunhado. E o menino trabalhava, mas continuava com os estudos.
Continuou ela: Hoje...ai meu Deus! Vou encurtar que o ônibus está chegando ao meu ponto. Eu dou graças a Deus quando meu filho está internado numa dessas casas que dizem recuperar drogados, pelo menos enquanto ele lá está, tenho um pouco de paz para cuidar dos outros dois.
Às vezes tenho um desanimo tão grande, quando o menor me diz ‘vou fazer a mesma coisa que o fulaninho, você não pode me bater mesmo’ e minha menina completa:
—Não pode mesmo! Se você fizer eu mesma vou te denunciar. Pode?
Tchau, reze por mim amiga!
Meu Deus! Tomaram das mãos dos pais o direito de educar, das crianças o de trabalhar e não souberam o que fazer. Será que esses defensores das crianças e adolescentes, pagos pelo Estado têm filhos? Ou, me desculpem a franqueza, são todos traficantes do mal?
                   Emília Goulart
Membro do Grupo Experimental da AAL e Cia dos blogueiros

Comentários

Eles têm mas como se ocupam com outras coisas não lhes dedicando quase nada, pensam que todo mundo deve fazer a mesma coisa. É estatuto da criança, Estatudo do Idoso, Estatuto do diabo a quatro e tudo ao abandono do poder público...c'est la vie, madam.

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