Novamente é Natal
Novamente é Natal
Novamente, é
Natal! Nossas expectativas mudaram. Os anos vão passando e eu vou me tornando
mais exigente. Já não me satisfaço com presentes materiais e não me alegro de
promessas vãs que nunca são cumpridas.
Não quero nada que no natal seguinte
esteja velho, esquecido em um canto qualquer ou obsoleto. Quero algo que me
alimente de lembranças boas. Quero o seu sorriso, ou até uma gargalhada
escandalosa para alegrar minha vida. Quero doces palavras para dar sabor aos
meus dias. Algumas lágrimas temperadas de alegria, para lembrar-me de que ainda
estou viva, contrariando as estimativas de vida para quem nasceu nos anos
quarenta. Quero um abraço apertado que não deixe soltas as pontas dos laços de
amizade. Abraços nos unem e matam saudades. Ainda que isto nos pareça
impossível, o abraço leva mensagens do nosso bem querer onde não conseguimos
alcançar.
No Ano que se aproxima quero mais respeito com
nosso planeta. Menos poluentes e agrotóxicos. Mais comprometimento dos humanos
com a flora e a fauna. Vamos plantar a certeza de que estamos preparando um
mundo melhor para todos. Que o amor e o respeito não sejam delimitados pela
cor, raça, religião, condição financeira ou opção sexual. Vamos respeitar as
diferenças, ser compreensivo e tolerante com as limitações do próximo.
Vamos fazer calar
nosso orgulho e preconceito. Aprender a dividir com os menos favorecidos e
deixar de arrogância diante dos fracos e oprimidos.
Quero ver e ouvir
orquestras e bandas tocando nas praças e nas favelas, substituindo sons de
tiroteios. Que as crianças possam brincar alegres pelas ruas, sem que balas
perdidas as alcance. Que os anseios de voltar para casa nunca terminem em
pesadelos.
Parabéns, paz e saúde aos trabalhadores
humildes que dividem os mesmos trinta mil reais, que a ministra desvaloriza,
por várias famílias e sobrevivem com honestidade. Desejo um ano bem melhor para
todos os alunos que alimentam o sonho de uma vida digna, embora nossos
governantes nada façam, nem mesmo para
proporcionar o convívio pacífico e seguro no ambiente escolar. Muitas vezes
ordenando a volta para suas casas, atendendo ordens do comando do tráfico para
fechar as portas das escolas. Parece que rasgaram o estatuto da infância e da
juventude. Os Direitos Humanos montou sede nas portas das prisões para melhor
dar voz e segurança aos bandidos, enquanto a população sofre as consequências.
As crianças estão desassistidas. Os idosos que
tanto contribuíram com a previdência perambulam ao léu em busca de assistência.
Que a nossa
teimosia nos permita vida longa para sairmos às ruas e gritar contra as
injustiças.
– Não, não somos
os culpados pelos desfalques, corrupções e empréstimos feitos à revelia dos
contribuintes. Onde está o dinheiro pago em altos impostos? Vamos levantar um
sonoro “bate o sino”. O INSS teria dinheiro suficiente, não fosse no passado,
contribuinte compulsório das usinas hidrelétricas. Não fosse o cofre aberto
para socorrer o governo em atos nada condizentes com o proposto pelo Instituto
Nacional do Seguro Social.
Agora levantaram
que há outro culpado pela escassez de recursos. São as mães que deixaram de ser
as parideiras do sustentáculo da roubalheira.
Desejo que os
Reis Magos nos visitem e tragam honra aos poderes e poderosos. Dignidade e
sabedoria ao povo brasileiro para escolher seus governantes e cobrar com ânimo
os nossos direitos. Somos um povo calmo e esperançoso. Meu pai sempre pregou paciência e esperança,
faleceu em1979, ainda na era do INPS. Ele dizia: quando o povo perde a
paciência, e vê a esperança minguar, não há poder que o detenha.
Não queremos nada
além dos nossos direitos: saúde, segurança, educação e ver o Brasil livre dos
corruptos.
Se a ordem e progresso não convivem bem, nos
devolvam a ordem, que o progresso será alcançado por esse povo tantas vezes
ultrajado.
Emília Goulart
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