Velhice Sem Traumas
Velhice Sem Traumas
Relutamos muito em assumir nossas dores,
melancolias, saudades e tentamos passar às outras pessoas uma juventude que não
nos veste bem. Nosso inabilidade com a nova tecnologia que nos afrontam com
seus números botões, zombadores da nossa imperícia em manipulá-los. Atestam a
velhice que negamos.
Inoportuna
ou não, a velhice chega e precisamos aceitá-la. Não sabemos por quanto tempo
conviveremos, espero fazer uma longa amizade com minha velhice, tentarei me
ajudar mais, reclamar menos, ser no mínimo suportável ao próximo. Eliminar todo
ranço do passado. Do meu álbum quero rasgar as páginas que revelaram magoas e
colorir de novo as que registraram
felicidade. Se você como eu se acomodou
no engodo de que a vida começa aos quarenta e já chegou aos setenta está na
hora de rever seus conceitos, pois continuar pousando de mocinho ou mocinha começa
a ficar ridículo. Ao se deparar com a minha sinceridade talvez me considere uma
“grossa”, contudo não se ofenda, é assim mesmo. Começamos por discordar de
tudo. Formulamos nossos pensamentos e não aceitamos críticas. É preciso mudar a
velha opinião formada: “ao velho tudo pode, tudo é permitido desculpável e uma
gracinha”.
Casais namorando logo
pela manhã é uma desgraceira no nosso dia. Tudo que fizemos e não fazemos mais
vem cutucar nossos sessenta, setenta anos ou mais. Vamos envelhecer com
sabedoria. Vestidinhos e shortinhos curtos
são para as meninas, ainda assim se tiverem pernas bonitas. A discrição é irmã gêmea da elegância.
Nossa! Eu não pretendia escrever isso, mas não trapaceio com
minha linha de raciocínio. Preciso aprender muito para ter uma velhice
tranquila sem me tornar um peso, nem uma vergonha para meus filhos.
Uma velha amiga me
disse isso a vinte anos atrás:
—Tenho prestado muita atenção na
mamãe para não repetir os mesmos erros, não a repreendo ela não faz por
maldade, apenas não viu o tempo passar.
Realmente não é preciso que nos lembre que estamos velhos. Nós
sabemos e sentimos. Mas, por favor, nos avise quando o batom vermelho for usado
em excesso.
Abriguei-me na minha
velhice e estou feliz. Com ela vi chegar a calmaria. O tempo de mar agitado
cessou. Vi a maré baixar mansamente. No inicio um temor de ser arrastada por
ela, mas aos poucos descobri que ainda tinha forças para pular pequenas ondas.
Não me atrevo mais a enfrentar ressacas, respeito o limite dos setenta.
Meu sonho não foi conhecer o mundo, cultivei ambições
maiores e desafiadoras. Sempre que a ocasião permite, convido algumas amigas e
partimos em buscas de grandes aventuras. Nossos encontros acontecem na caverna do
passado. Lá abrimos nossos baús empanturrados de memórias. Algumas secretas
outras indiscretas. No silêncio da caverna, saltam sobre nós teias que nos
entrelaçam com afeto. Um suplemento de ternura nos é servido em taças de amores
vividos. Sobre a mesa, gasta pelo tempo, abrimos um mapa e revisitamos lugares,
onde nos decepcionamos em alguns e fomos felizes em outros.
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