Tempo Perdido
Tempo Perdido
Perdemos tanto tempo, da nossa curta existência, com
pressentimentos e ressentimentos tolos. Caso isto te lembre alguma letra de
música, pode estar certo você não se enganou.
Hoje acordei com aquela música tão bem interpretada pela cantora Vanusa e
também fui vasculhar minhas gavetas. Não perdi nada, mas guardei muita coisa
que poderia bem ter jogado fora.
Pequenas magoas, alguns desenganos guardados por tanto tempo que não
fazem mais sentido e apenas atormentam lembranças das velhas amizades. Como podemos ser tão
cruéis? Já não nos lembramos direito os
motivos que nos afastaram, mas evitamos caminhar pela mesma calçada. Certamente
você também tem algum comentário, ofensa ou magoa guardados por ressentimentos
tolos.
Disposta a mudar atitudes que não me servem mais, pensei no
tempo que Deus nos dá a partir dos sessenta anos. Acredito que Ele comece a
perdoar alguns dos nossos velhos pecados. Penso assim por sentir que minha alma
tem ficado mais leve. Antes eu carregava muitas magoas e achava que a vida só
fazia sentido se fosse dente por dente, olho por olho. Hoje tenho motivos para
acreditar que Deus arrancou algumas páginas do meu livro. Não que eu as tenha
esquecido, mas chego a achar graça de tantos absurdos cometidos por vaidade e
imaturidade.
Não fui justa quando acusei minha melhor amiguinha de ter
quebrado minha boneca de estimação. Ela apanhou e eu fiquei feliz pensando, bem
feito! Coisa pequena quando se é criança, Deus só pode ter perdoado mesmo sem o
meu pedido de desculpa depois que o verdadeiro culpado se confessou.
Mas em dias preguiçosos assim como foi 25-10-2016 quando a
chuva deu uma refrescada nos ânimos, tento me alimentar de otimismo para aliviar
os dias desgastantes que nos importuna com a agenda política do país que
extrapolam em noticiários sem apresentar nenhuma solução digna e humana a
população.
Recuperar parte do perdido, não significa que devolveram ao
povo o que nos foi tirado.
Bons tempos aquele da carroça. E você com certeza ira
pensar.
Quem precisa dele agora? O que precisamos é de agilidade.
Com toda razão pode me contestar, mas prefiro as
contestações que enlouquecer com a injustiça que assola meu país. Meu refúgio é
o meu passado. Vou lá para a casa dos meus pais e meus avós, eles plantaram a
paz que eu ainda trago na memória.
Abrir a porta em dias de chuva e ver os cavalos galopando no
pasto. O tio vestido com sua capa grossa de montaria caminhando para o curral,
o pai esperando a chuva afinar para sair à procura de reses para comprar e montar
uma boiada. E meu avô que da uma volta pelo quintal e decreta:
—Hoje não dá para capinar.
Depois com um sorriso largo olhava para mim e dizia:
—Então vamos colher minha neta.
Passeios bons, sempre com recomendações da minha mãe e minha
avó:
— Não vão longe! A chuva pode engrossar.
Embornal carregado de abobrinhas voltávamos felizes. Não sem
antes colher e comer um marmelo que dava na pontinha da vara.
A vara, o vovô cortava e levava para a vovó. Era usada para
ameaçar, mas nunca para ferir.
Hoje são tantas as noticias que nos entristecem: violência,
acidentes, crianças molestadas e mortas na maioria das vezes pela própria família. Esses fatos me levam a perguntar: Que
famílias são essas? Que escassez de bons sentimentos sobreveio ao mundo comprometendo
o futuro da humanidade?
Emília Goulart
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