O amor em quatro estações

Um dia amei sem nenhum pudor. Sofri, chorei me despi de amor próprio e simplesmente amei. Amei como jamais pensei amar. Acreditei que seria para sempre.

Enquanto o mundo girava brinquei de amor intenso. Na primavera deitei-me na grama e vi o céu se derramar em estrelas sobre mim. Era jovem e tecia meu destino com fios dourados de amor. Na crença de que seria sempre primavera.

No verão torrei-me ao sol para virar uma estátua de bronze, pensei que assim sem vontades próprias aceitando suas variantes de humor, faria dele o homem mais feliz do mundo. Suas vontades eram tão intensas e vulgares,  as minhas tão ambiciosas. Não consegui acompanha-lo e nossas estações não se completavam.

Fiz uma fogueira ardente com os gravetos dos galhos já sem flores que haviam enfeitado minha vida na primavera Como eram encaloradas as mudanças de estações!

O outono se aproximava, com punhaladas fortes tentei riscar seu nome gravado nas árvores do parque, na estátua de bronze e no coração partido. Feridas inúteis deixaram em mim cicatrizes tristonhas, tristezas medonhas e mágoas profundas.

No aconchego do meu quarto onde cantei, sorri, chorei, sofri e fui feliz, a saudade me consola. Esta difícil arte de entender e acostumar com o fim, incapacita-nos de aceitar que a vida é uma noite.

Observo as flores murcharem, as folhas secarem nos galhos tombados e sedentos a espera do inverno que se aproxima.

Não há mais lenhadores que tragam lenha para a lareira, nem violeiros desafiando as madrugadas. Do fogo restou a cinza, e a fênix não quer voar, mas ainda sonha, porque o sonho é o ultimo refúgio do amor.

Nele a música na vitrola ainda toca, e as flores na penteadeira estão cheias de vida.

Emília Goulart


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De moleque para moleque

SOU CAIPIRA SIM, SENHOR