Travessuras

 


 Travessuras

 Todas minhas travessuras infantis conspiravam para que eu me tornasse escritora. O carinho, a paciência e a criatividade do vovô Marco, muito contribuíram. Suas historias contadas aos ouvidos atentos dos netos ao redor do fogão de lenha, eram criadas enquanto suas mãos teciam esteiras para carros de bois, outras eram modificadas, ele tinha umas três versões diferentes para cada clássico: João e Maria, Gata borralheira, Branca de neve; não tinha propagandas  nem intervalos, mas vovô não admitia cochilos intercalados . Este era o sinal para a hora de dormir.    Suas versões eram divertidas, todas as noites histórias e causos uniam os netos entorno dele e do calor aconchegante do fogão de lenha que aquecia a cozinha nas noites frias.

Esta não é uma história compreendida por leitores jovens a não ser que estejam dispostos a se embrenharem por uma mata densa de artigos e contos do começo do século vinte, para se encontrarem com lobisomens, sacis, carros de bois que gemiam ao peso da produção agrícola até os vilarejos onde eram comercializadas. O termo esteira era para uma manta enorme trançada com fitas de bambu. Mas deixa-me prosseguir com minha formação literária de caipira que sou e me orgulho de ser. Não discuto a gramática porque dela entendo pouco. Mas aprecio os autores que muito me ensinam através de seus livros.

Tenho uns setenta e três anos de formação, nenhuma faculdade para exibir. Aprendi que para ser escritor é preciso ler, escrever e ouvir. Não me importa a nacionalidade do autor, nem mesmo com seu grau de instrução, não vou contratá-lo, portanto dispenso seu currículo. Importa  que eu entenda a sua linguagem, que o texto me conte uma história de modo que eu entenda. Esta é a melhor forma de ensinar e também de aprender, nas salas de aula minhas divagações tropeção nos deslizes dos mestres emparedados pelos muros de uma faculdade entre travessões, vírgulas, pontos e tais...

Ora... ora eu sou a escritora Emília Goulart

                           

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