Após um longo período de incubação espero retomar este contato tão prazeroso com meus leitores .
Tenho andado afastada não por falta de textos ou de inspiração. Meus motivos são de ordem técnica. Sou do tempo do telegrama, das cartas enviadas pelo correio. A mídia digital é algo que me inibe. Portanto se depararem com textos longos no estilo de saudosas cartas, saibam que me proponho a fazer melhor estou sempre aprendendo.
Nunca é tarde, engatinho como os bebês, entre sinais e gráficos digitais me apoio em busca do entendimento que leve ao bom termo esta condição de blogueira com a certeza de que posso vencer esta barreira vou publicar mais um texto escrito por mim.
Minha proposta é de constância, farei tudo para não decepcioná-los.
Meus Tios Valeram a
Pena
Possuo
uma riqueza que a nova geração com raras exceções irão possuir: tios. Eu os
tive de mãos cheias. Cheias de amor, de carinho e cuidados. Hoje em minhas boas
lembranças da infância eu os guardo e posso dizer com orgulho: Meus tios
valeram a pena.
Minha
mãe, a filha mais velha de doze irmãos, casou-se com meu pai que era o terceiro
filho entre seis irmãos. Demorou sete anos para engravidar. Remédio para o caso,
há setenta anos, eram orações, promessas e simpatias, que fizeram de mim a
pessoa mais aguardada na família. Tenho boas razões para prestar esta homenagem aos tios. Como a eternidade não é
coisa deste mundo, alguns partiram.
Meus netos ainda sabem o que é o prazer de ter tios, mas os bisnetos que virão não herdarão esta riqueza. As grandes famílias estão encolhendo. Nas pequenas casas um quarto era dividido entre dois, três ou mais irmãos, hoje um quarto é pouco para um único herdeiro se espalhar. Seguindo a lógica vejo com tristeza que novas gerações não terão a bela herança que recebi dos meus avós. Alguns fatos carimbaram a presença deles na minha vida. Depois de tanta espera, ficou determinado que eu fosse única. Felizmente cheguei até aqui sem necessitar nenhum transplante, pois não teria um irmão a quem recorrer.
Não me lembro é claro, mas meu tio Lourizo garantia que eu não o
deixava ler jornais, enquanto convalescia de uma enfermidade, ficando em nossa
casa. Eu devia ser muito chorona, e não deixava minha mãe fazer nada. Para colaborar ele me balançava
em uma rede. Mas quando pensava que eu havia dormido e pegava o jornal para
ler, a choradeira começava. Portanto fui eu de certo modo a responsável por seu analfabetismo
funcional.
Minha
tia Aparecida, fazia requeijão para eu comer de colher e ficava brava se as
filhas dela comiam. Enfim com tantos mimos eu até que não sou tão má como possa parecer.
Minha
tia Elpidia preparava toda manhã, meu café com açúcar de rapadura, e o tio
Antônio ordenhava o leite direto para a minha caneca. Eu não gostava de ovos
quentes. Como eu era miudinha eles achavam que eu devia tomar. Tio Antônio esquentava o
ovo e depois de esperar esfriar um pouquinho despejava na minha boca. não sei se o consumo de ovos na infância contribuiu para minha saúde, mas, meus exames de sangue dizem que sim.
O
tio Deoclides realizou meu desejo de ser madrinha, me deu o primeiro afilhado. Eu queria tanto ser comadre de
verdade! Foi feita a minha vontade aos doze anos.
Do
meu tio José tenho uma lembrança bem triste. Eu o vi chorar. Sua grande paixão
seria servir o exército. Sonhara com isto, mas naquele ano os moços que
trabalhavam na lavoura foram dispensados. Na roça eram mais úteis a nação. Meu
amor por meu tio era tão grande que perguntei se não poderia trabalhar no lugar
dele para que ele pudesse ir. Ver meu tio chorar foi o maior exemplo de patriotismo que eu tive na vida.
A
tia Maria devo-lhe a mãe que sou. Morei com ela desde os meus treze anos. Com
ela aprendi a dividir, coisa que filhos únicos não sabem. Esta tia embora
tivesse muitos filhos os criou sozinha e nunca fez diferença entre nós. Se as
batatas e os bifes precisavam ser repartidos, as partes eram iguais para todos.
Há amores que não morrem, adormecem.
Tio
Chico, irmão mais novo do meu pai, por quanta lambança eu o fiz sofrer. Ele era
berranteiro dos bons, sabia com seu berrante conduzir uma grande boiada. Quando chegava de uma viagem e ia se aproximando de casa,
tocava o berrante e eu ia ao seu encontro. Um dia esqueceu-se que montava uma
mula nova que estava domando, eu corri ao seu encontro e levei um coice. Alguém
tem ideia do que é um coice de mula numa menina de sete anos? Quase morri! Voltei
do desmaio com meu tio desesperado do meu lado gritando que ia matar a mula.
Com este tio eu aprontei todas, até roubei-o. Vendo-me apanhar disse: Se
soubesse que foi ela teria ficado quieto. Imaginem!
As
tias, Manoelina e Geny, duas fofas, continuam sendo meus anjos da guarda ainda
hoje. Que continuem assim por muitos anos.
Com
o tio Ivo, pouco mais velho que eu, vivi uma longa história de cumplicidade. Um
dia escreverei sobre nossa grande amizade e aventuras. Precisa um espaço só
para ele.
Se gostaram de um OK
Amanhã tem mais.
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