Apenas dez reais

 

Apenas dez reais.


Um grupo de ciganos que povoam a praça de tempos em tempos me despertam muitas dúvidas. De onde eles vêm, para onde eles vão. São mesmo ciganos?

 Na minha infância vi muitas tendas de ciganos eles apareciam do nada. Uma bela manhã eles amanheciam instalados em suas tendas. Eram ágeis nesta e em outras atividades. Mas alegravam a minha pequena cidade de interior quase sem atrativos, a não ser os circos, as touradas e as quermesses. Tudo muito esporádico. Os ciganos eram uma atração à parte, As histórias verídicas ou não sobre eles eram assustadoras. Sequestro de crianças, assaltos às dispensas, e aquelas espertas trapaças de ver as mãos e levarem os anéis.

As lembranças saudáveis da minha infância não deram conta de acalmar o meu medo quando uma dessas que estavam na praça barrou minha caminhada.

– Deixa-me ler sua mão senhora, são apenas dez reais.

Confesso que passei do susto ao medo numa fração de segundo. Afinal são pessoas estranhas com as quais não devemos emendar conversas. Já dizia minha mãe lá pelos idos 1950!

 A cigana com passos ligeiros e um ágio bailado rodopiou na minha frente fazendo tilintar as medalhas aplicadas em sua saia e me impedindo a passagem.

–Tenho algo muito importante para revelar, são apenas dez reais.

Sorri e tentei ir adiante, mas ela estava decidida a ter os dez reais de qualquer modo, creio eu. Sempre evito fixar nos olhos de um desconhecido, mas desta vez meu olhar foi atraído pelo leite que brotava dos mamilos e empapava sua blusa. Quando ela quase implorando disse:

– Estou morrendo de fome e preciso ir não consegui nada hoje, tempos difíceis!

Eu já estava disposta a dar-lhe o dinheiro, porém o medo de ser assaltada quando abrisse a bolsa me afastou um pouco da cigana.

– Você esta me coagindo, eu não tenho este dinheiro.

Fiquei motivada, mas com medo agarrei mais forte a minha bolsa, eu levava pouco mais do que ela pedia, mas se ela agarrasse a bolsa e corresse, eu não a alcançaria e iria ter muito trabalho para refazer toda documentação inclusive algumas receitas médicas.

Nesta altura dos acontecimentos avistei um senhor distinto na aparência, ele parecia estar atento a conversa e disposto a intervir se fosse necessário. Muito distinto daqueles que nos inspiram confiança.

Eu já me via gritando pela praça, pega o ladrão, não, pega a cigana. Quando senti a bolsa sendo arrancada da minha mão.

Ficamos a cigana e eu estáticas olhando o elegante senhor correr levando minha bolsa. Alguns segundos de inércia e ele havia desaparecido.

Um conhecido que passava por lá me deu carona e emprestou dez reais para eu dar para a cigana. O que mais me impressionou foi a confissão da mulher:

Este grupo de ciganos me salvou da violência doméstica, há seis meses, eles tem protegido a mim e ao meu bebê.

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